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Colunas / Coluna do Felipe Vasconcelos

O impacto da vitória de Trump para a América Latina

Vitória do republicano traz mudanças para o cenário internacional nos próximos anos, especialmente para a América Latina

O impacto da vitória de Trump para a América Latina
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A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 2024 traz expressivas mudanças para o cenário internacional. Isso porque, somando o inegável papel de liderança que os Estados Unidos da América exercem no mundo e o conhecido comportamento enérgico do presidente eleito, é nítido que as mudanças na política externa americana sob a gestão Trump irão trazer consequências mundo afora.

Mas como serão - ou poderão ser - tais consequências para a América Latina e para o Brasil?

A primeira delas, e talvez mais nítida, é a questão da imigração. Isso porque Trump é uma figura extremamente incisiva no que tange a imigrantes ilegais, o que pode afetar de maneira significativa as dinâmicas socioeconômicas em países latino-americanos. Embora suas políticas de deportação sejam difíceis de implementar em sua totalidade, é certo que Trump se esforçará para dificultar a imigração ilegal, e com o senado federal, a câmara dos deputados e o governo do Texas alinhados, serão indubitavelmente colocadas na prática.

Assim, surgirão problemas para os países ao sul do continente, uma vez que os mesmos não teriam infraestrutura suficiente para receber os eventuais deportados. Outro ponto extremamente importante é o fato de que inúmeros latinos trabalham nos EUA para sustentar suas famílias que vivem em outros países, e com estes latinos perdendo a possibilidade de trabalhar com uma eventual restrição imposta.

Outro ponto importante a ser destacado é o intervencionismo e a influência americana na América Latina, que podem ser manifestas de duas maneiras diferentes:

Através de ação direta, visando principalmente o combate a regimes contrários como a Venezuela e Cuba, e o combate aos cartéis e ao tráfico de drogas. As proporções nas quais Trump irá impactar o status quo atual da América Latina é incerto, mas sabe-se que Havana e Caracas temem uma escalada na retaliação de seus governos, através de sanções, decisões políticas e até ações militares, embora limitadas. Tratando sobre o tráfico de drogas, é esperado que Trump organize ações militares severas contra cartéis, personalidades e locais associados à produção de drogas, já tendo sugerido até mesmo bombardeios a estes locais, o que demandaria um diálogo intenso com países latino-americanos para realizar. Ainda que seja incerto quais serão as políticas específicas adotadas pela gestão, a previsão é de que sejam violentas.

Também veremos tal influência e intervencionismo atuando de forma indireta, sobretudo incentivando uma nova onda da direita ideológica no continente, o que pode ter impactos na maioria dos regimes democráticos da região, incluindo o Brasil. A vitória de Trump foi intensamente comemorada em Buenos Aires, por exemplo, onde Javier Milei percebe a entrada de um novo aliado na Casa Branca. Para além da Argentina, a vitória foi comemorada por partidos e personalidades do espectro político de Trump em toda a América, indicando que a mesma representou um incentivo ao crescimento das ideias da Direita no continente, o que deve ser observado nas próximas eleições que ocorrerem.

Caso peculiar e talvez acentuado disso seja o de Jair Bolsonaro, aliado de longa data de Donald Trump, que deve usufruir de diversos benefícios com o republicano na Casa Branca, uma vez que Trump ser eleito não só representa o crescimento da Direita, mas também a presença de um aliado em uma posição extremamente influente no mundo, o que pode resultar, entre outras coisas, em sanções contra o Supremo Tribunal Federal e pressão contra o que republicanos americanos e direitistas brasileiros chamam de “censura e cerceamento da liberdade de expressão” no Brasil.

Mais um impacto notável é a questão da Guerra Comercial entre EUA e China. Com o protecionismo econômico defendido pelo presidente-eleito americano e a crescente retórica anti-China estando presente no Estado americano, espera-se que o embate comercial existente entre Washington e Pequim aumente nos próximos anos de forma drástica.

Tal disputa comercial será amplamente marcada por protecionismo, taxações e tarifas alfandegárias, o que, de modo geral, irá prejudicar o desenvolvimento chinês, fazendo com que o país talvez venha a diminuir suas importações. Dependendo de como essa situação for concretizada, pode representar um problema grave para países da América Latina, uma vez que a China e os EUA são os principais parceiros comerciais dos países da região e uma restrição na liberdade de comércio internacional promovida por estas duas nações prejudica a economia latino-americana. Apesar disto, o impacto deve ser observado setor por setor, uma vez que existem áreas da economia, como o agronegócio, por exemplo, que podem ser beneficiadas, uma vez que caso a China pare de utilizar produtos americanos específicos, pode se voltar para comprar os mesmos produtos de outros mercados, incluindo o Brasil.

Trump, que já começou a montar seu gabinete, assume em janeiro de 2025, promete trazer mudanças significativas para os EUA, para o mundo e para a América Latina. Resta-nos agora acompanhar sua efetividade e o quanto de suas ideias ele colocará em prática, apesar de que, com o Congresso e o Senado em mãos, as ideias do republicano não estão longe de serem efetuadas.

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Felipe Vasconcelos

Publicado por:

Felipe Vasconcelos

16 anos, formado no programa de analista internacional da Escola Superior de Relações Internacionais e com cursos em universidades como Georgetown e Harvard, escreve sobre política internacional e como esta influencia o cotidiano da região sul e...

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