Ao longo da construção do Estado e da projeção de poder brasileira, inúmeras reflexões foram realizadas acerca de fatores geográficos e como eles impactam no papel do Brasil no mundo.
A alta cúpula militar, os diplomatas a serviço do Itamaraty, economistas, acadêmicos e cientistas políticos debatiam com frequências aspectos que englobam o desenvolvimento econômico, social e político. Debates amplamente conhecidos como a implementação do modal rodoviário, a necessidade de desenvolver a região norte e nordeste e até mesmo sobre aumentar a integração nacional (este terceiro que, inclusive, levou a capital do Brasil para longe da baía de Guanabara em direção ao bem desenhado esquema que hoje conhecemos como Brasília) fizeram parte dessas reflexões acerca do desenvolvimento nacional.
Mas uma área um pouco menos discutida é a das reflexões acerca da projeção de poder nacional no mundo. Nessa análise em específico, a pergunta era: quais ferramentas o Brasil possui para se destacar dentre as demais nações?
Muitas foram destacadas. Se essa pergunta for feita para um oficial da marinha no Rio de Janeiro, com certeza nosso litoral e nossos mares serão citados. Se feita para um membro do agronegócio no Centro-Oeste, a resposta será nossa capacidade produtiva agropecuária. Tais respostas, ainda que distintas, seriam corretas e válidas.
Mas quando essa pergunta é feita no norte do país, o bem mais precioso da região (e um dos mais preciosos do planeta) deveria ser a resposta óbvia. Uma ferramenta que faça o Brasil se destacar? A Amazônia, obviamente.
Não é segredo para alguém que more em uma região amazônica que as dimensões de tal floresta são colossais (e, arrisco dizer, difíceis para a compreensão humana), afinal, a ideia de uma floresta extremamente densa com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados e que se espalha por 9 países é, no mínimo, impressionante.
Contudo, uma dádiva natural de tamanha magnitude estaria inevitavelmente inserida nos jogos de poder do homem, e assim aconteceu. Os recursos, o simbolismo e as vantagens que a floresta amazônica oferece são (dentro do possível) aproveitadas pelo Brasil e por outras nações.
Em primeiro lugar, destaca-se a evidente abundância de recursos naturais disponíveis. Reservas de minérios como o ferro, por exemplo, impulsionam muito a economia nacional. O nióbio, metal raro usado em tecnologia avançada e em ligas de aço, é bem presente na Amazônia também, fazendo do Brasil o principal produtor de tal minério no mundo. Bacias hidrográficas também podem ser citadas como exemplo de recursos amazônicos que impulsionam a segurança e estabilidade da economia e do desenvolvimento brasileiro.
Tão é verdade que os recursos naturais disponíveis na floresta amazônica são extremamente valiosos, que ao analisar a história política internacional, percebe-se que inúmeros países já tentaram aumentar suas capacidades na região. Desde o Império Britânico e a França nas guianas, exercendo sua influência desde séculos atrás, até contratos extrativistas e ocupações da floresta negociadas por países como Brasil, Colômbia e Bolívia.
Mas para além de recursos que impulsionam a economia, existe outro fator na equação Poder-Amazônia. Um fator muito mais moderno e, de determinado ponto de vista, mais impactante: a ecologia e a sustentabilidade.
Desde a Conferência de Estocolmo de 1972, a comunidade internacional vem expressando uma preocupação crescente com a pauta ambiental. Desde então, organizações voltadas para o meio-ambiente começaram a surgir, a pauta começou a ser cada vez mais levantada nas mídias e a população mundial se conscientizou cada vez mais a respeito.
Em linhas diretas: o mundo acordou para a importância de respeitar o ambiente no qual vivemos. E como isso seria bom para o Brasil? Ainda mais envolvendo a Amazônia? Tal resposta é simples: A floresta amazônica é a maior floresta tropical do mundo. Mais do que isso, lar da maior biodiversidade existente em um bioma e com uma importância crucial no equilíbrio climático global. Se realmente quisermos ter uma boa relação com nosso planeta, tal relação necessariamente terá que passar pela Amazônia.
É aí que o Brasil entra. Detentor da maior parcela da floresta, o Brasil advoga pelos direitos da Amazônia. A voz do Brasil é a voz da floresta. É assim que o bioma mais uma vez representa um caminho para diversas oportunidades as quais o Brasil pode aproveitar na política internacional.
Com o tema do meio-ambiente estando cada vez mais em foco e a Amazônia por sua vez desempenhando papel fundamental no tema, o Brasil tem a oportunidade de, em nome da Amazônia, projetar sua influência nos fóruns de discussão multilaterais. Dessa maneira, o que pode ser enganosamente visto como um aglomerado de árvores por milhares e mais milhares de quilômetros, se transforma em uma força catalisadora da influência brasileira, proporcionando ao Brasil o poder de fala (e, consequentemente, influência) em um dos temas mais discutidos pela comunidade internacional hoje: a sustentabilidade.
Assim, ao fazer essa análise é impossível não perceber que no que tange à projeção do Brasil para o mundo, a floresta amazônica é uma ferramenta essencial.
Através do que chamamos acima de “equação Poder-Amazônia”, é possível identificar dois fatores fundamentais que explicam o porquê de tal importância: a existência de recursos naturais que dão ao Brasil mais possibilidades do que os demais países usualmente desfrutariam e a posição da nação tupiniquim como líder global e pivotal em um dos temas que mais ocupa as discussões globais hoje, a sustentabilidade.
A única alteração necessária nessa equação, para potencializar as vantagens amazônicas, é que o fator “Estado” entre de forma inteligente, estratégica e segura. Para que o Brasil consiga mais influência e poder, Brasília precisa olhar para o norte.
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