Dentre as inúmeras tradições que constituem a Igreja Católica, o Conclave é uma das mais fundamentais e, sem dúvidas, a de maior responsabilidade: escolher o próximo Papa. Nas próximas semanas, esta importante tradição será novamente colocada em prática, nos levando, finalmente, ao próximo líder da maior instituição religiosa do mundo.
Sede Vacante
Após a trágica morte do Papa Francisco na Segunda-Feira, 21 de Abril, logo após a Páscoa, o Vaticano iniciou os procedimentos usuais dos próximos passos. O Camerlengo da Igreja, Kevin Farrell anunciou, ainda no dia 21, a morte do papa, queimando o anel do Pescador e os Selos Papais. Ao mesmo tempo, o Vaticano e líderes de todo o mundo se preparam para prestigiar o funeral do Santo Padre, ocorrido dias após a morte na Basílica de São Pedro e, então, tem início o período de Sede Vacante, quando não se tem um Papa liderando a Igreja e as funções dele são temporariamente exercidas pelo Camerlengo.
Conclave
É então que entra o Conclave. Com o objetivo de decidir quem será o próximo líder da Igreja Católica, cardeais de todo o mundo se reúnem na Capela Sistina desde o Século XIII. Isolados de todo o mundo exterior e proibidos de ler matérias da imprensa, conversar com pessoas de fora ou acompanhar quaisquer notícias, os cardeais deliberam até alcançar uma maioria qualificada de dois terços para, finalmente, eleger o próximo Papa. O evento, somando sua natureza religiosa e institucional, traz uma relação balanceada e saudável de fé e política, com a “politicagem” não deixando de existir, mas, ao mesmo tempo, preces para uma luz na votação também tendo papel central.
A tradição centenária, pela própria natureza de seu extenso tempo de aplicação, já teve episódios inéditos, como casos de Conclaves que duraram anos. No entanto, a expectativa para o próximo, seguindo a tradição dos últimos, é de um conclave curto, de não mais do que quatro dias, segundo teólogos e estudiosos do Vaticano. Com início provavelmente entre o dia 06 e o dia 11 de Maio, o Conclave contará, como tradicionalmente, com extensas orações e muita deliberação entre os cardeais presentes, que participarão de até quatro votações por dia até a obtenção da maioria qualificada dos votos. Duas vezes por dia, uma pela manhã e uma pela tarde, o mundo fora da Capela Sistina será atualizado do resultado: se, do telhado do Vaticano, sair uma fumaça preta, significa que nenhuma decisão foi tomada ainda. Se a fumaça for branca, o recado é claro: Habemos Papa.
Próximo Papa e desafios futuros
Desde a última Segunda-Feira, inúmeras especulações foram feitas acerca de quem seria o próximo nome a ser escolhido, com grandes figuras se sobressaindo, tanto progressistas, quanto conservadores, quanto moderadas. Entre o primeiro grupo, destacam-se o Maltês Mario Greech, o Arcebispo de Barcelona Juan Omella, o Arcebispo de Marselha Jean-Marc Aveline, o Arcebispo de Bolonha Matteo Zuppi e o filipino Luis Antonio Tangle, conhecido como “Francisco asiático”. No bloco dos conservadores, figuras como o húngaro Peter Erdo e o senegalês Peter Turkson, que se consagraria, em caso de vitória, como o primeiro papa subsaariano de origem humilde, agradam muito. Por fim, para os moderados, o diplomata e Secretário de Estado do Vaticano Pietro Parolin é a principal aposta, sendo ele uma figura muito forte e, segundo analistas, um dos favoritos a assumir o Papado.
Seja quem for o próximo papa a ser eleito, escolhido provavelmente do início para a metade de Maio, o novo líder da Igreja Católica e de seus mais de um bilhão de fiéis - número que tem crescido cada vez mais no último ano - enfrentará desafios significativos pela frente. Longe da crença comum de que o Papa não tem poder, o Vaticano é responsável por influenciar o padrão moral de toda a sociedade Ocidental e, mais do que isso, tem poder político internacional de participar e liderar iniciativas diplomáticas envolvendo, até mesmo, guerras e conflitos. Dessa forma, com a Guerra na Ucrânia, as tensões no Oriente Médio e no Extremo Oriente, a fome, o fortalecimento do autoritarismo e a militarização de praticamente todas as regiões do mundo, o próximo Papa terá o difícil e importante trabalho de se tornar um farol de luz para um mundo mergulhado na escuridão das imperfeições da mente e da sociedade humana.
Comentários: