A notícia da execução sumária de um adolescente de 13 anos em Marabá escancara uma ferida que vai muito além do crime. A reação nas redes sociais, com celebrações da morte e expressões como “cortaram o mal pela raiz”, revela uma profunda crise que exige uma reflexão urgente, guiada por valores que deveriam ser os alicerces de nossa sociedade.
É inegável e não pode ser atenuado: o menino em questão, com mais de 20 passagens pela polícia e envolvido em crimes como assaltos, representava um grave problema de segurança pública. Seus atos causaram vítimas e alimentaram o ciclo de violência. Nenhuma sociedade pode ser conivente com a criminalidade, seja de quem for.
No entanto, a pergunta que se impõe é de ordem moral: temos o direito, como indivíduos, de classificar a morte violenta de uma criança – um menor delinquente, é claro, mas ainda assim uma criança – como um “mal necessário” ou um ato de justiça? A resposta, à luz do ensinamento cristão que forja os valores de nossa civilização, é um retumbante “não”. Mais do que isso: cabe à sociedade comemorar este fato?
O Evangelho de Mateus (7:1-5) é claro e direto: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” Esta passagem não é uma apologia à impunidade, mas um solene aviso sobre a arrogância de se erigir em juiz final da vida alheia. Celebrar a morte, mesmo de alguém que errou gravemente, é usurpar um direito que não nos pertence e alimentar o mesmo ódio que gera a violência que tanto condenamos.
Ao invés de direcionar nosso revés à criança falecida, não seria mais justo e produtivo cobrar do Estado soluções inteligentes e eficazes? A sociedade deve exigir um sistema socioeducativo que seja, de fato, educativo e reclusivo, com penas mais duras e tempo de internação adequado para romper o ciclo criminoso, em vez de ser uma mera passagem pela qual o jovem infrator retorna mais cedo à criminalidade. A emancipação de um menor que comete crimes hediondos, por exemplo, não seria o melhor caminho?
Por fim, é preciso enxergar o quadro maior: quando uma criança de 13 anos é assassinada, a sociedade como um todo perdeu a guerra para o crime. Os homens que puxaram o gatilho não agiram sozinhos; são braços de uma organização que recruta, usa e descarta vidas.
O desafio é colossal, mas a resposta não pode ser o julgamento brutal. A verdadeira justiça não se faz com mais sangue, mas com a firmeza das leis, a eficiência do Estado e, acima de tudo, com a compaixão que nos impede de comemorar uma tragédia, por pior que seu protagonista tenha sido.
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