Por volta das 15h de terça-feira (2), integrantes do Movimento Sem Terra (MST) fecharam a PA-160, na entrada de Canaã dos Carajás, e impediram o livre trânsito de moradores e visitantes da Terra Prometida. Com paus, pedras, fogo e foices, o MST mostrou a coragem de outrora, poder de organização e ousadia para deixar ilhada uma das cidades mais bolsonaristas do Brasil. Os integrantes simplesmente não se intimidaram com o discurso raivoso dos canaenses, que votaram maciçamente em candidatos da direita. Ora, ao fim, parece que o coração vermelho do MST se sobressai ao gogó de quem tanto o critica.
Em vídeo gravado, um dos dirigentes estaduais do MST, Vancivagner, esclarece quais são as razões para o fechamento da rodovia e as pautas que o movimento defende: fechamento da rodovia para impedir qualquer tentativa do ex-presidente Bolsonaro de chegar a Canaã e um protesto contra a candidatura de Jeová Andrade, ex-prefeito de Canaã.
Essa última chama a atenção. O MST foi criado para lutar a favor de reforma agrária. O pensamento era a luta por terra, agricultura familiar, desapropriação de áreas improdutivas para entregar a famílias a chance de trabalhar e viver. Pautas que estão acima da jurisdição municipal. O que a eleição de um município interfere na luta de um movimento social tão específico?
Eis aí, o pulo do gato. Sem querer, ou querendo, Vancivagner entregou a verdadeira motivação do grupo que se instalou em Canaã no Abril Vermelho. O MST local tem uma missão política em Canaã e um papel definido nas Eleições 2024.
Sabendo que a visita de Jair Bolsonaro favoreceria qualquer candidatura da mesma ala de pensamento em Canaã, o MST fez o que faz com maestria, como nenhum outro grupo no mundo: utilizar os próprios métodos para pressionar e, se for o caso, tumultuar.
O acampamento do MST não foi erguido em Canaã por acaso. Desde o início, ao que parece, a missão estava bem definida. A culminância do projeto tenha sido, talvez, a terça-feira (2).
De um jeito de outro, Bolsonaro não viria a Canaã, como ficou esclarecido ainda no dia anterior. No entanto, o grupo não quis correr riscos e travou o único caminho pelo qual ele poderia chegar ao município.
No entanto, o esclarecimento do líder do MST levanta ainda mais questionamentos do que responde: quem deu essa missão ao MST? Quem paga a alta despesa de 2 mil famílias acampadas? O acampamento ainda ficará de pé, tendo passado a aparente culminância da missão? A quem interessa minar a candidatura de Jeová Andrade?
Perguntas que somente o tempo responderá. Ou não.
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