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Por que Canaã dos Carajás insiste em falar de consciência negra?

Se no caminho da luz todo mundo é preto, se em nossas veias o mesmo sangue é vermelho, por qual razão ainda se fala de consciência

Por que Canaã dos Carajás insiste em falar de consciência negra?

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Palavras como diáspora, abolição, consciência negra, reparação histórica, entre tantas outras que relembram a triste escravidão e o sofrimento da população negra incomodam muito quem mora em Canaã. Sejamos sinceros: a cada ano, sempre nas celebrações do 20 de Novembro, a mesma ladainha de que não se deve discutir “consciência negra”, mas sim “consciência humana” recomeça e caímos na mesma armadilha de se importar com a ignorância alheia. Afinal, o caminho correto não seria, em definitivo, ignorar a inexpressão de tão poucos em uma cidadezinha no interior do Pará?

Mas será que o caminho melhor não seria tentar entender a cabeça de quem não concorda com tais palavras? Faço este exercício, então, e me perguntou: por que Canaã dos Carajás insiste tanto em falar sobre consciência negra?

Se no caminho da luz todo mundo é preto, como diz Emicida, se em nossas veias, o mesmo sangue é vermelho, por que a gente fica falando sobre consciência de qual cor for? Falar tanto sobre negritude não é dividir o país? Não é retroalimentar o próprio racismo? Não é dar lastro a movimentos de esquerda?

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Dedico esta coluna, então, a uma reflexão sobre consciência humana, pedida por grupos que se incomodam com os vocábulos tão citados no 20 de Novembro e em suas proximidades. Consciência humana seja talvez o caminho.

É impossível falar sobre consciência aos únicos seres capazes de raciocinar no universo até aqui conhecido sem citar a história, afinal somos construções de memórias e de causas e de efeitos.

Se falamos de história, precisamos falar do Brasil, afinal aqui nascemos e vivemos.

Se falamos de história do Brasil, precisamos falar da mácula em nossa história que são os 388 anos de escravidão, subjugação e muita, muita vergonha. Alimentamos por quase quatro séculos a demoníaca e lastimável ação de ter pessoas de pele preta como propriedade, de destruir sonhos, seus anseios, em nome de um covarde sistema econômico.

Passados os 388 anos de escravidão, falemos dos 135 anos seguintes, no pós-abolição. Um tempo pequeno demais, se considerarmos a gigantesca linha do tempo da história da humanidade.

Neste tempinho, os negros abolidos precisaram viver à margem da sociedade, em favelas, tiveram acesso aos piores empregos, passaram fome e, sim, se tornaram a maior parte da população carcerária brasileira – quase 70%. Não é nenhuma coincidência: tem mais preto bandido, do que branco – fruto de uma abolição feita com os pés por gente pressionada, que não queria abrir mão da boa vida.

Mais de 50% da população brasileira é preta ou parda, a esmagadora maioria. Entretanto, olhemos para os principais cargos nos governos, em empresas, no judiciário, no legislativo: cargos ocupados por pessoas brancas em todas as esferas. Pense em quantos presidentes negros que tivemos, pense em quantos juízes negros você já viu, em quantos deputados, em quantos senadores... Não é por acaso.

Se estivermos de fato falando em consciência humana, devemos levar em conta as desgraças causadas pelo recém-fechado sistema escravista brasileiro. Se há consciência humana, de fato, é preciso insistir em falar sobre consciência negra dia após dia.

Incomoda a tantos falar sobre consciência negra porque não há consciência alguma em si, somente elevados níveis de ignorância misturados à testosterona e à certeza de que não há nada para se refletir.

Precisamos, sim, falar de consciência humana. Mas para isso é necessário ter humanidade e não há humanidade sem reparação histórica. E é justamente isso o que deve ser debatido no 20 de Novembro.

Canaã insiste em falar sobre Consciência Negra porque é necessário.

Créditos (Imagem de capa): Show da Consciência Negra em Canaã dos Carajás - Diego Barbosa

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Kleysykennyson Carneiro

Publicado por:

Kleysykennyson Carneiro

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