A Guerra Russo-Ucraniana, que já passa dos dois anos de duração, traz impactos claros para a política e a economia internacional, como a instabilidade geopolítica, a crise humanitária e crises econômicas diversas. No entanto, existe ainda uma questão menos comentada, mas que pode afetar diretamente o Brasil e o sudeste paraense, mais especificamente, no setor agrário e na produção de grãos.
Desde o começo do conflito, observa-se uma considerável modificação na economia dos dois países beligerantes. A Rússia, após as sanções ocidentais, passou por um processo de renovação da economia, nacionalizando boa parte dos serviços que antes eram feitos por empresas do Ocidente e buscando ampliar relações econômicas com países como a China. Já a Ucrânia, além de adaptar toda sua produção para uma economia de guerra, perdeu boa parte de sua capacidade para exportar um de seus bens mais notáveis: os grãos.
O país invadido tem como uma das principais características de sua geografia a presença de grandes planícies extremamente férteis, e esse foi um fator chave para o desenvolvimento ucraniano da cultura de grãos, que fez do país um dos grandes centros mundiais no cultivo e exportação dos mesmos. No entanto, desde o começo do ataque russo em fevereiro de 2022, a Ucrânia se encontra extremamente debilitada neste setor, ao passo em que grandes porções de terras férteis foram ocupadas pelo exército russo, campos de produção agrícolas foram arrasados por combates e a frota russa no Mar Negro impedira a passagem de dezenas de navios ucranianos que exportavam grãos.
Com isso, o mercado internacional de grãos se tornou extremamente instável, ao passo que um de seus maiores fornecedores se vê diante de problemas na produção e exportação. Apesar de diversas tentativas terem sido feitas para reverter essa situação, nenhuma medida foi suficientemente eficaz para estabilizar as exportações com o mercado de grãos, ainda estando sujeito a pesadas variações a depender da oscilante capacidade ucraniana de compô-lo.
Assim sendo, tal instabilidade no mercado traz impactos diretos para produtores de grãos e consumidores ao redor de todo o mundo, com prova disso sendo a grande variação no preço deste produto, que embora seja mais alarmante na Europa, onde os preços de alimentos saltaram exponencialmente de 2022 em diante, pode ser percebida em diversas regiões do globo, que também se viam em parte dependentes das importações de alimentos vindas da Ucrânia.
Trazendo para o contexto mais próximo, tal instabilidade no mercado internacional provocada por uma tensão geopolítica de grandes proporções pode impactar diretamente o agronegócio brasileiro e especificamente do sudeste paraense. O ainda incerto desfecho das exportações ucranianas de grãos resulta em incerteza também no futuro deste mercado, afetando não só a oferta, mas também o valor dos produtos agrários, o que pode resultar em um problema para produtores em todo o mundo, e no sudeste paraense.
Créditos (Imagem de capa): Foto: Gilson Abreu/ Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná
Comentários: